sábado, 24 de julho de 2010

No chão

A cada duas passadas, em um espaço com distância menor que um quarteirão, sobre uma marquise lá estavam pelo menos cinco no chão. Entre pessoas passando, correndo da chuva e comércios fechando eles não se moviam. Os que passavam não os viam ou pelo menos fingiam. Estariam mortos?

O que fizeram essas pessoas chegarem a esse ponto? Ou será... o que não fizeram e nem fazem para tirarem-nas de lá? E imaginar o quão é maior a dimensão disso: nos pontos, marquises, viadutos. Quantos que como estes estão não só neste momento, mas todos os dias, noites e durante uma vida inteira ou grande parte dela neste triste cotidiano.

Triste foi a palavra mais ‘triste’ para definir a cena – dita por duas mulheres que também passavam, como eu, espremidas na sombrinha, correndo o quanto podiam para encontrar um lugar seguro.

Foi assustador ver a multiplicação de gente deitada sobre papelões, cobertas por eles ou não – com cobertores cor de asfalto, outro com lençol tão fino, quase translúcido. Gente... são gente! Gente que dormia às 19 horas de uma noite de sexta-feira, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, não porque estavam cansados de um dia intenso, mas talvez em viver a vida tensa e triste a que foram levados; talvez porque dormindo a gente pode sonhar e viver a realidade que não se tem.

Em casa, em minha cama quente e segura lembrei a cena, que na verdade não saiu da cabeça, me acompanhando durante uma viagem que durou 3h30min.de congestionamento e chuva.

Pensei, agradeci, chorei e rezei. Essa noite o pedido especial tinha endereço certo, ou o certo a dizer é: não tinha endereço.

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